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Trabalho doméstico em tempo de pandemia: ainda é só uma questão das mulheres?

  • Foto do escritor: Tunelga Almiro
    Tunelga Almiro
  • 27 de jul. de 2020
  • 3 min de leitura

A pandemia do COVID-19 em Moçambique está a alastrar-se cada vez mais, surgem novos casos com ciclo de transmissão desconhecidos pelas autoridades, ainda corremos o risco de avançar para o lock down


Experimenta-se agora no país uma nova forma de prestar serviços, de se ser e estar no mercado de trabalho! Digo “nova” porque para a maior parte dos moçambicanos trabalhar significa, sair do contexto de casa, ir phandar!


Não obstante, antes mesmo da pandemia, algumas empresas já vinham experimentando este alongamento, permitindo que seus funcionários cumprissem as metas a partir de casa. Não perder tempo no trânsito, poupar combustível, e evitar o tempo de espera na paragem dos transportes, permitia mais tempo dedicado ao trabalho.


Por falar em trabalho, Moçambique conta com a força de trabalho feminina desde que existe, mesmo com a divisão sexual do trabalho que colocou os homens a fazer o trabalho formal remunerado e as mulheres em casa, com o trabalho domésticos não remunerado. Durante a Luta de Libertação Nacional, que foi um momento único de exaltação da força e unidade entre moçambicanos, as mulheres já se prontificavam para se juntar às fileiras como combatentes, e também como enfermeiras e cuidadoras, desempenhando um papel crucial para a revolução.


Não vivi nessa época, mas ouço relatos de mulheres e me inspiram.

A mulher é tida como uma multitasking nata, que é o dever dela organizar, limpar, arrumar e cuidar. Desde sempre conciliamos o nosso trabalho formal remunerado e o trabalho doméstico não remunerado. Acordamos 2 horas mais cedo que homens, porque temos actividades “invisíveis” por fazer. Aliás, mesmo na idade escolar aprendemos que temos de fazer tudo. Estudar e fazer tarefas domésticas com perfeição.



Papel social exigido às mulheres VERSUS trabalho formal remunerado


Por causa do COVID-19, as crianças estão já a mais de 60 dias sem ir à escola, algumas usam os meios virtuais para manter o contacto académico, o que exige um acompanhamento a dobrar, e este dever é exigido a mulher.


Ainda é necessária a limpeza, o planeiamento e preparação das refeições, cuidar dos mais velhos e mais, todas essas actividades são geralmente feitas por mulheres.

Esta mesma mulher é funcionária, têm deadlines por cumprir, contactos com clientes, frequentes reuniões de feedback durante o dia. Gerir o dia-a-dia é cada vez mais desafiador, o dia sem tréguas, continua tendo 24 horas.


A carga de exigência que nos é imposta continua gigantesca, seja para uma mulher casada ou solteira.

E me pergunto, quando é que se vai perceber que o trabalho doméstico não é invisível? Que ele existe porque “todos” nós moramos em uma casa, e é suposto cada um dar o seu contributo.

 O trabalho doméstico não remunerado merece atenção de todos, e essa sobrecarga não deve ser apenas imposta às mulheres.

Exigimos direitos iguais! E queremos fazer parte deste processo em que todos estamos preocupados, e também estamos a aprender novos métodos de comunicar, de ser e estar no trabalho e no planeta, de forma equitativa.


Os homens e as mulheres têm exigências formais “iguais” como funcionários, mas substancialmente com jornadas diferentes. O espaço privado, onde as mulheres se submetem as actividades domésticas não remuneráveis ainda é visto como invisível e desassociado do espaço público, onde faz parte também o trabalho formal. 


Entretanto, neste momento em que se trabalha remotamente, está a tornar-se impossível separar ou ignorar estes espaços. A pressão é cada vez mais forte, o que mais uma vez exige das mulheres mais competência e resiliência. Aos homens não basta só reconhecer a importância dessa dupla jornada feminina. Isso realmente não basta! Não! É preciso fazer parte!


Não sou fanática de chavões, mas alguns funcionam com ou sem a minha vontade. Deve todo mundo conhecer, aquele que diz: "as melhores oportunidades acontecem no momento de crise".

Este confinamento veio esclarecer que o trabalho doméstico também deve ser contado e partilhado com amor.

É uma oportunidade para os homens cumprirem a sua parte do dever como ser humano e uma forma de demostração de amor à sua família.

Trabalhar de forma remota nesta crise, propicia um espaço de equilíbrio para complementar a vida doméstica com a profissional, e isto é possível.


Mas temos de estar juntos nisto!


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